domingo, 26 de abril de 2009

Almeida Garrett

João Baptista da Silva Leitão de Almeida e mais tarde visconde de Almeida Garrett, (Porto, 4 de Fevereiro de 1799 — Lisboa, 9 de Dezembro de 1854) foi um escritor e dramaturgo romântico, orador, Par do Reino, ministro e secretário de Estado honorário português.
Grande impulsionador do teatro em Portugal, uma das maiores figuras do romantismo português, foi ele quem propôs a edificação do Teatro Nacional de D. Maria II e a criação do Conservatório de Arte Dramática.


Características do Texto Dramático

É constituido por:

Texto principal - composto pelas falas dos actores que é ouvido pelos espectadores;

Texto secundário (ou didascálio) que se destina ao leitor, ao encenador da peça ou aos actores;

É composto por:

-pela listagem inicial das personagens;

-pela indicação do nome das personagens no início de cada fala;

-pelas informações sobre a estrutura externa da peça (divisão em actos, cenas ou quadros);

-pelas indicações sobre o cenário e guarda roupa das personagens;

-pelas indicações sobre a movimentação das personagens em palco, as atitudes que devem tomar, os gestos que devem fazer ou a entoação de voz com que devem proferir as palavras;


Acção – é marcada pela actuação das personagens que nos dão conta de acontecimentos vividos;

Estrutura externa – o teatro tradicional e clássico pressupunha divisões em actos, correspondentes à mutação de cenários, e em cenas e quadros, equivalentes à mudança de personagens em cena.

Estrutura interna:

Exposição – apresentação das personagens e dos antecedentes da acção.

Conflito – conjunto de peripécias que fazem a acção progredir.

Desenlace – desfecho da acção dramática.



Classificação das Personagens:

*Quanto à sua concepção:

Planas ou personagens-tipo – sem densidade psicológica uma vez que não alteram o seu comportamento ao longo da acção. Representam um grupo social, profissional ou psicológico);

Modeladas ou Redondas – com densidade psicológica, que evoluem ao longo da acção e, por isso mesmo, podem surpreender o espectador pelas suas atitudes.


*Quanto ao relevo ou papel na obra:

-protagonista ou personagem principal Individuais;

-personagens secundárias ou figurantes Colectivas;


Tipos de caracterização:

Directa – a partir dos elementos presentes nas didascálias, da descrição de aspectos físicos e psicológicos, das palavras de outras personagens, das palavras da personagem a propósito de si própria.

Indirecta – a partir dos comportamentos, atitudes e gestos que levam o espectador a tirar as suas próprias conclusões sobre as características das personagens.


Espaço – o espaço cénico é caracterizado nas didascálias onde surgem indicações sobre pormenores do cenário, efeitos de luz e som. Coexistem normalmente dois tipos de espaço:

Espaço representado – constituído pelos cenários onde se desenrola a acção e que equivalem ao espaço físico que se pretende recriar em palco.

Espaço aludido – corresponde às referências a outros espaços que não o representado.


Tempo da representação – duração do conflito em palco;

Tempo da acção ou da história – o(s) ano(s) ou a época em que se desenrola o conflito dramático;

Tempo da escrita ou da produção da obra – altura em que o autor concebeu a peça.



Discurso dramático ou teatral:

Monólogo – uma personagem, falando consigo mesma, expõe perante o público os seus pensamentos e/ou sentimentos;

Diálogo – falas entre duas ou mais personagens;

Apartes – comentários de uma personagem que não são ouvidos pelo seu interlocutor.

Romantismo no "Frei Luis de Sousa"

Frei Luís de Sousa é uma obra típica do Romantismo Português, não só pela linguagem que apresenta (exclamações, reticências, interrogações) como também pelos comportamentos emocionais das personagens.
A presença, sistemática, do Amor desencadeia a tragédia e sobretudo o pecado, duas grandes características do Romantismo Português.

O confronto entre o indivíduo e a sociedade (Individualismo) é particularmente visível em D. Madalena, quando esta se indigna com a atitude arrogante dos governadores quererem habitar o seu palácio.

A religião aparece para suavizar o sofrimento trágico (tomada de hábito de D Madalena e Manuel Coutinho) e é, também, uma referência de todas as personagens.
O Patriotismo e o Nacionalismo, também presentes na obra, são características do comportamento de algumas personagens e situações, nomeadamente o acto patriótico de Manuel Coutinho ao incendiar o seu palácio e o Sebastianismo alimentado por Telmo e Maria.

Por fim, a morte, um dos temas mais característicos do Romantismo, surge como solução aos conflitos desencadeados no decorrer da obra: morte física de Maria; morte espiritual de D Madalena e Manuel Coutinho; morte psicológica de Telmo.
É de referir, também, que Garrett tentou “introduzir-se” na obra e para tal, utilizou Maria. Esta, como voz do autor, opunha-se ao destino a que os pais se propuseram.

No entanto, apesar de romântica, esta obra tem traços da Tragédia Clássica, pois podemos interpretar as diferentes situações com os elementos da tragédia: o Pathos (aflição de D Madalena quando interrogada por Maria); a Peripécia (as opções que Manuel Coutinho e D. Madalena tomam, a mudança que Telmo tem em ralação ao Sebastianismo); o Reconhecimento (a chegada do Romeiro); o Clímax (a decisão tomada por Manuel Coutinho em se suicidar para o Mundo) e, por fim, a Catástrofe (a morte, com diferentes sentidos, das personagens). Como se vê é uma obra multifacetada com traços muito específicos, mas que podem ser interpretados como um “Trágico Romantismo”.

Mito Sebastianista

Em Frei Luís de Sousa, o mito sebastianista está bem presente. A história da peça aborda uma autêntica catástrofe que se abateu sobre a vida de uma família nobre do final do século XVI. Tem como característica peculiar o facto de todas as personagens assumirem, ao longo do enredo, posições coerentes e de uma grande dignidade, pelo que é difícil definir quem é a personagem principal, da mesma forma que, no final, perante tão graves consequências de toda a tragédia abatida, surge no leitor uma sensação de profunda injustiça.
De uma forma resumida, o enredo é o seguinte: D. João de Portugal, um nobre muito respeitado na sociedade, desapareceu, em 1578, na batalha de Alcácer Quibir, por sinal a mesma na qual o rei D. Sebastião perdeu a vida. Contudo, a morte de D. João de Portugal nunca foi provada, passando-se exactamente o mesmo com D. Sebastião.

Análise dos actos e das cenas

Primeiro Acto:

-Subdivide-se em doze cenas;

-Câmera antiga e luxuosa dos princípios do século XVII;

-Apenas um retrato do cavaleiro de D. Manuel Sousa Coutinho;

-Menciona a posição das portas que será invertida no acto seguinte;

-Começa num início de tarde em Lisboa.

Segundo Acto:

-Subdivide-se em quinze cenas;

-Palácio, em Almada, que pertencera a D. João de Portugal;

-Há vários retratos, entre eles os do Del-rei D. Sebastião, Camões e D. João de Portugal;

-O aspecto religioso transparece através da Capela da Senhora da Piedade e da Igreja de São Paulo;

Terceiro Acto:

-Subdivide-se em doze cenas;

-Ocorre na parte baixa do Palácio, onde encontramos a Capela da Senhora da Piedade da Igreja de São Paulo dos Domínicos d’Almada;

-Os móveis e a ornamentação intensificam a melancolia do ambiente. A simbologia da cruz de tábua negra com o letreiro INRI sugere sacrifícios de cunho religioso;

-A iluminação noturna, composta de tochas e velas, não dispensa a declaração de que o acto começa na total ausência de luz solar: “é alta noite”;

Resumo de "Frei Luis de Sousa"

Esta obra de Almeida Garrett aconteceu no decorrer do século XVI, retrata a vida de Manuel Coutinho e da sua esposa D. Madalena de Vilhena, uma mulher muito supersticiosa, que acredita que qualquer sinal que achasse fora do normal era uma chamada de atenção para acções futuras, um presságio. Enquanto que Manuel, um homem corajoso, patriota, provado historicamente que era possuidor de um grande amor por Madalena, não se importa com o passado da sua esposa, esta vive com muitos receios em relação ao facto do seu primeiro marido, D. João de Portugal, que, apesar de se pensar que terá sido morto na batalha de Alcácer Quibir, está ainda vivo e regressa a Portugal tornando ilegítimo o casamento de Manuel. Este facto valoriza o amor, mesmo contra os ideais sociais da época. O dramatismo desta obra é mais acentuado quando o autor concede ao casal uma filha, D. Maria de Noronha, uma jovem que sofre de tuberculose. Pura, ingénua, curiosa, corajosa, perfeitamente inocente dos actos dos seus pais, é a personificação da própria beleza e pureza que se consegue originar mesmo num casamento condenável. É-lhes concedido também um aio, Telmo Pais, que ainda é leal ao seu antigo amo, D. João de Portugal, para além de ser contra o segundo casamento de D. Madalena. Conselheiro atencioso e prestativo que tem um carinho enorme por D. Maria. O desfecho da obra é originado por Manuel de Sousa que incendeia a sua casa a fim de não alojar os governadores. Ao perceber que Manuel destruíra a sua própria casa, onde residia o quadro de Manuel, Madalena toma esta situação como um presságio, pressentindo que iria perder Manuel tal como perdeu a sua casa e o seu quadro. Consequentemente, Manuel vê-se forçado a habitar na residência que dantes fora de D. João de Portugal. Este regressa à sua antiga habitação, como romeiro, e frisa as apreensões de Madalena ao identificar o quadro de D. João. Com esta revelação, o casal decide ingressar na vida religiosa adoptando novos nomes: Frei Luís de Sousa e Sóror Madalena. O conflito desenvolve-se num crescente até ao clímax, provocando um sofrimento (pathos) cada vez mais cruel e doloroso. Esta obra está tão bem organizada, ou seja, os acontecimentos estão tão bem organizados, que nada se pode suprimir sem que se altere o conflito e o respectivo desenlace. Considera-se um drama romântico pois possui algumas características de um clássico: o nacionalismo, o patriotismo, a crença em agoiros e superstições, o amor pela liberdade (elementos românticos); indícios de uma catástrofe, o sofrimento crescente, o reduzido número de personagens, peripécias, o coro (elementos clássicos).