domingo, 26 de abril de 2009
Almeida Garrett
Grande impulsionador do teatro em Portugal, uma das maiores figuras do romantismo português, foi ele quem propôs a edificação do Teatro Nacional de D. Maria II e a criação do Conservatório de Arte Dramática.
Características do Texto Dramático
Texto principal - composto pelas falas dos actores que é ouvido pelos espectadores;
Texto secundário (ou didascálio) que se destina ao leitor, ao encenador da peça ou aos actores;
É composto por:
-pela listagem inicial das personagens;
-pela indicação do nome das personagens no início de cada fala;
-pelas informações sobre a estrutura externa da peça (divisão em actos, cenas ou quadros);
-pelas indicações sobre o cenário e guarda roupa das personagens;
-pelas indicações sobre a movimentação das personagens em palco, as atitudes que devem tomar, os gestos que devem fazer ou a entoação de voz com que devem proferir as palavras;
Acção – é marcada pela actuação das personagens que nos dão conta de acontecimentos vividos;
Estrutura externa – o teatro tradicional e clássico pressupunha divisões em actos, correspondentes à mutação de cenários, e em cenas e quadros, equivalentes à mudança de personagens em cena.
Estrutura interna:
Exposição – apresentação das personagens e dos antecedentes da acção.
Conflito – conjunto de peripécias que fazem a acção progredir.
Desenlace – desfecho da acção dramática.
Classificação das Personagens:
*Quanto à sua concepção:
Planas ou personagens-tipo – sem densidade psicológica uma vez que não alteram o seu comportamento ao longo da acção. Representam um grupo social, profissional ou psicológico);
Modeladas ou Redondas – com densidade psicológica, que evoluem ao longo da acção e, por isso mesmo, podem surpreender o espectador pelas suas atitudes.
*Quanto ao relevo ou papel na obra:
-protagonista ou personagem principal Individuais;
-personagens secundárias ou figurantes Colectivas;
Tipos de caracterização:
Directa – a partir dos elementos presentes nas didascálias, da descrição de aspectos físicos e psicológicos, das palavras de outras personagens, das palavras da personagem a propósito de si própria.
Indirecta – a partir dos comportamentos, atitudes e gestos que levam o espectador a tirar as suas próprias conclusões sobre as características das personagens.
Espaço – o espaço cénico é caracterizado nas didascálias onde surgem indicações sobre pormenores do cenário, efeitos de luz e som. Coexistem normalmente dois tipos de espaço:
Espaço representado – constituído pelos cenários onde se desenrola a acção e que equivalem ao espaço físico que se pretende recriar em palco.
Espaço aludido – corresponde às referências a outros espaços que não o representado.
Tempo da representação – duração do conflito em palco;
Tempo da acção ou da história – o(s) ano(s) ou a época em que se desenrola o conflito dramático;
Tempo da escrita ou da produção da obra – altura em que o autor concebeu a peça.
Discurso dramático ou teatral:
Monólogo – uma personagem, falando consigo mesma, expõe perante o público os seus pensamentos e/ou sentimentos;
Diálogo – falas entre duas ou mais personagens;
Apartes – comentários de uma personagem que não são ouvidos pelo seu interlocutor.
Romantismo no "Frei Luis de Sousa"
A presença, sistemática, do Amor desencadeia a tragédia e sobretudo o pecado, duas grandes características do Romantismo Português.
O confronto entre o indivíduo e a sociedade (Individualismo) é particularmente visível em D. Madalena, quando esta se indigna com a atitude arrogante dos governadores quererem habitar o seu palácio.
A religião aparece para suavizar o sofrimento trágico (tomada de hábito de D Madalena e Manuel Coutinho) e é, também, uma referência de todas as personagens.
O Patriotismo e o Nacionalismo, também presentes na obra, são características do comportamento de algumas personagens e situações, nomeadamente o acto patriótico de Manuel Coutinho ao incendiar o seu palácio e o Sebastianismo alimentado por Telmo e Maria.
Por fim, a morte, um dos temas mais característicos do Romantismo, surge como solução aos conflitos desencadeados no decorrer da obra: morte física de Maria; morte espiritual de D Madalena e Manuel Coutinho; morte psicológica de Telmo.
É de referir, também, que Garrett tentou “introduzir-se” na obra e para tal, utilizou Maria. Esta, como voz do autor, opunha-se ao destino a que os pais se propuseram.
No entanto, apesar de romântica, esta obra tem traços da Tragédia Clássica, pois podemos interpretar as diferentes situações com os elementos da tragédia: o Pathos (aflição de D Madalena quando interrogada por Maria); a Peripécia (as opções que Manuel Coutinho e D. Madalena tomam, a mudança que Telmo tem em ralação ao Sebastianismo); o Reconhecimento (a chegada do Romeiro); o Clímax (a decisão tomada por Manuel Coutinho em se suicidar para o Mundo) e, por fim, a Catástrofe (a morte, com diferentes sentidos, das personagens). Como se vê é uma obra multifacetada com traços muito específicos, mas que podem ser interpretados como um “Trágico Romantismo”.
Mito Sebastianista
De uma forma resumida, o enredo é o seguinte: D. João de Portugal, um nobre muito respeitado na sociedade, desapareceu, em 1578, na batalha de Alcácer Quibir, por sinal a mesma na qual o rei D. Sebastião perdeu a vida. Contudo, a morte de D. João de Portugal nunca foi provada, passando-se exactamente o mesmo com D. Sebastião.
Análise dos actos e das cenas
Primeiro Acto:
-Subdivide-se em doze cenas;
-Câmera antiga e luxuosa dos princípios do século XVII;
-Apenas um retrato do cavaleiro de D. Manuel Sousa Coutinho;
-Menciona a posição das portas que será invertida no acto seguinte;
-Começa num início de tarde em Lisboa.
Segundo Acto:
-Subdivide-se em quinze cenas;
-Palácio, em Almada, que pertencera a D. João de Portugal;
-Há vários retratos, entre eles os do Del-rei D. Sebastião, Camões e D. João de Portugal;
-O aspecto religioso transparece através da Capela da Senhora da Piedade e da Igreja de São Paulo;
Terceiro Acto:
-Subdivide-se em doze cenas;
-Ocorre na parte baixa do Palácio, onde encontramos a Capela da Senhora da Piedade da Igreja de São Paulo dos Domínicos d’Almada;
-Os móveis e a ornamentação intensificam a melancolia do ambiente. A simbologia da cruz de tábua negra com o letreiro INRI sugere sacrifícios de cunho religioso;
-A iluminação noturna, composta de tochas e velas, não dispensa a declaração de que o acto começa na total ausência de luz solar: “é alta noite”;